Pandemia altera cronograma de vestibulares de inverno; candidatos falam em sonhos suspensos e adaptação
Por causa do coronavírus, 16 instituições mudaram a data do vestibular ou alteraram a forma de seleção, adotando Enem ou provas on-line. Pandemia afetou cronograma de vestibulares de inverno no Brasil.
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A pandemia do novo coronavírus alterou o cronograma de vestibulares marcados para o meio do ano – os chamados vestibulares de inverno ou de segundo semestre –, o que levou candidatos a reverem planos e se adaptarem.
Um levantamento feito pelo G1 com 35 instituições de ensino (14 públicas e 21 privadas) em 13 estados e no Distrito Federal apontou que a pandemia interferiu no cronograma de 16 delas (9 públicas e 7 particulares).
Elas mudaram a data do vestibular ou alteraram a forma de seleção por causa do coronavírus. Em alguns casos, há oferta de vagas por meio do desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em outros, a prova passou a ser on-line.
Vestibulares afetados pela pandemia
Provas suspensas ou indefinidas
Ao menos quatro processos seletivos foram suspensos por causa da pandemia:
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)
Instituto Federal Fluminense (IFF)
Universidade Federal do Tocantins (UFT)
A situação está indefinida em outras três instituições:
Cederj
Universidade Feevale
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)
Na UnB, o edital nem chegou a ser lançado. Segundo um comunicado da instituição, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) aprovou em 23 de março a suspensão do calendário acadêmico “pelo tempo que durar a crise de emergência na saúde provocada pelo novo coronavírus”.
“Todas as seleções com ingresso para o 2º semestre de 2020 terão os editais publicados em momento oportuno”, diz o texto.
Estudantes lamentam
Karen Reis, de 17 anos diz que ficou decepcionada com a suspensão do vestibular da Universidade de Brasília (UnB) para o segundo semestre deste ano, por causa do novo coronavírus.
Arquivo pessoal
A medida da UnB afeta a vida das estudantes Karen Reis, de 17 anos, e Ana Carolina Pinheiro, de 29 anos.
Karen, que faria a prova apenas como treineira, já que ainda está no último ano do ensino médio, conta que se prepara desde o final de 2019 para tentar uma vaga no curso de medicina.
“Mas acho que cabe a nós compreender que manter as atividades poderia acarretar prejuízos ainda maiores”, afirma a estudante. Ela afirma que continua os estudos diários para fazer a prova, independentemente de quando será aplicado o exame.
Já Ana Carolina Pinheiro diz que não fez um curso superior porque precisou se dedicar ao trabalho antes de concluir os estudos. Mas quando se mudou para o DF, em 2017, viu a oportunidade de estudar novamente e começou a se organizar. Escolheu investir na preparação para cursar psicologia na UnB.
Estava estudando desde o final de 2018 e explica que “ficou triste” ao saber da suspensão da prova. “Queria muito começar a estudar antes dos 30”, diz. Mesmo frustrada, vai insistir. “Só sinto que estou perdendo tempo e já não tenho mais tanto tempo para perder.”
Na Uerj, não há seleção exclusiva para o meio do ano, mas a segunda fase do processo de vestibular que ocorre em junho e setembro está suspensa. Os candidatos deveriam fazer duas provas específicas ligadas à carreira – candidatos de medicina fazem as provas de redação, biologia e química, por exemplo.
“Não temos como marcar ainda a nova data, o que só poderemos fazer quando houver condições para retornarmos ao trabalho”, diz a instituição.
Além disso, a universidade alerta para a condição de preparo dos estudantes em um ano em que as aulas estão suspensas em todo o Brasil desde março. “Os exames precisarão levar em conta a realidade dos candidatos, principalmente daqueles da escola pública, que não terão tido aulas presenciais por no mínimo um semestre”, afirma a UERJ.
Dentre as mudanças avaliadas, está o aumento do número de locais de prova e a higienização desses lugares. Também é cogitada a distribuição de máscaras.
Cronograma suspenso e mudanças em SC
Em Santa Catarina, a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) suspendeu o cronograma e as 11 instituições ligadas à Associação Catarinense das Fundações Educacionais (Acafe) trocaram o vestibular do meio do ano por outro processo de seleção via internet e que levará em conta as notas do Enem de 2015 a 2019. Estudantes contaram sobre as dificuldades que encontram com essas medidas e como seguem a rotina em meio ao isolamento social.
Brunah Rieth Castro Silva, de 18 anos, foi uma das candidatas afetadas. Ela, que mora em Florianópolis, mirava o vestibular de da Udesc que seria realizado em junho para uma vaga no curso de administração.
“Eu já tinha o meu ano planejado, no qual estava incluído fazer o vestibular de inverno da Udesc. Porém, com tudo que aconteceu em relação à pandemia, esses planos se complicaram. Apesar de ficar chateada por não poder fazer a prova, fico muito feliz que esta medida tenha sido tomada”, disse.
Aula em vídeo de curso pré-vestibular durante pandemia
Alice Rossi/Arquivo pessoal
Provas pela internet e uso do Enem
Na Universidade de Vila Velha, no Espírito Santo, por exemplo, por causa da pandemia as provas serão feitas on-line “em um modelo de game interativo desenvolvido pela própria instituição, que contempla os conteúdos abordados em nossos vestibulares convencionais”, como informou a instituição.
A Universidade de Rio Verde (Unirv), em Rio Verde (GO), também mudou e informou que vai usar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar os candidatos a 2.030 vagas.
A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) informou que, devido à pandemia, destinou 95% das vagas para os candidatos disputarem por meio do desempenho no Enem de 2011 a 2019 e está realizando prova agendada on-line.
O Senac em São Paulo informou que também adotará provas on-line pela primeira vez.
Prova presencial mantida
A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, manteve a prova presencial, mas alterou a data do vestibular de inverno, que prova será incorporado ao vestibular de verão. A seleção está marcada para dezembro.
Segundo a universidade, a aplicação do exame seguirá “todas as medidas de distanciamento, higienização e cuidados contra a propagação do Covid-19, de acordo com os Protocolos definidos pela Secretaria Estadual de Educação.”
Otávio Santi Cavalli, de 17 anos, sonha em fazer vestibular para educação física na UEPG e se preparava para a prova de inverno. O adiamento para dezembro fez com que a ansiedade desse espaço à preparação.
“Eu já estava nervoso com o vestibular de inverno. Mas agora, com o vestibular no fim do ano, dá para ver um lado bom nisso: vou ter mais tempo para estudar, revisar mais os conteúdos”, afirma.
Otávio Santi Cavalli, 17 anos, sonha em fazer vestibular para educação física na UEPG e se preparava para a prova de inverno
Arquivo pessoal
A Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein afirmou que vai manter as provas presenciais, marcadas para a última semana de julho.
Em nota, a instituição disse que monitora a situação, mas, por enquanto, prevê que a aplicação da do exame será feita em mais salas que em anos anteriores, o que permitirá manter os candidatos afastados.
Além disso, exigirá o uso de máscaras e deixará álcool gel disponível nas salas. “O afastamento deve implicar em uso de número maior de salas alocadas em diferentes locais, maior número de fiscais”, informou a instituição.
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