Enem: leia 10 redações nota mil em 2019 e veja dicas de candidatos para fazer um bom texto
Estudantes que tiraram nota máxima na redação reforçam a importância do repertório cultural e do exercício constante da escrita. Enem 2020 ainda não tem data marcada. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, 53 candidatos tiraram nota mil na redação, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Abaixo, o G1 mostra a transcrição de dez desses textos que receberam a avaliação máxima na prova.
Os autores das redações dão dicas para quem está se preparando em casa para o Enem 2020. A prova estava marcada para novembro, mas será adiada por 30 ou 60 dias, por causa da pandemia do novo coronavírus.
Entre os conselhos dados pelos candidatos nota mil, estão: exercício constante da escrita, leitura de autores importantes, compreensão das competências exigidas na correção do exame e cuidado com a saúde emocional durante o ano letivo.
Redações nota mil
O tema da dissertação do Enem 2019 foi: “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Confira exemplos de textos nota mil e veja as dicas dos autores de como escrever uma boa redação:
Observação: as transcrições são exatas e incluem eventuais erros de português cometidos pelos candidatos.
Alana Miranda, 22 anos, Uberlândia (MG)
Dica: “Buscar auxílio na sociologia e na filosofia para ter um bom repertório, além de ser o próprio corretor do seu texto para reconhecer os erros e mudá-los.”
Enem: trecho da redação nota mil de Alana Delfino
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“Ao longo do processo de formação da sociedade, o pensamento cinematográfico consolidou-se em diversas comunidades. No início do século XX, com os regimes totalitários, por exemplo, o cinema era utilizado como meio de dominação à adesão das massas ao governo. Embora o cinema tenha se popularizado, posteriormente, como entretenimento, nota-se, na contemporaneidade, a sua limitação social, em virtude do discurso elitizado que o compõe e da falta de acesso por parte da população. Essa visão negativa pode ser significativamente minimizada, desde que acompanhada da desconstrução coletiva, junto à redução do custo do ingresso para a maior acessibilidade.
Em primeira análise, é evidente que a herança ideológica da produção cinematográfica, como um recurso destinado às elites, conservou-se na coletividade e perpetuou a exclusão de classes inferiores. Nessa perspectiva, segundo Michel Foucault, filósofo francês, o poder articula-se em uma linguagem que cria mecanismos de controle e coerção, os quais aumentam a subordinação. Sob essa ótica, constata-se que o discurso hegemônico introduzido, na modernidade, moldou o comportamento do cidadão a acreditar que o cinema deve se restringir a determinada parcela da sociedade, o que enfraquece o princípio de que todos indivíduos têm o direito ao lazer e ao entretenimento. Desse modo, com a concepção instituída da produção cinematográfica como diversão das camadas altas, o cinema adquire o caráter elitista, o qual contribui com a exclusão do restante da população.
Além disso, uma comunidade que restringe o acesso ao cinema, por meio do custo de ingressos, representa um retrocesso para a coletividade que preza por igualdade. Nesse sentido, na teoria da percepção do estado da sociedade, de Émile Durkheim, sociólogo francês, abrangem-se duas divisões: “normal e patológico”. Seguindo essa linha de pensamento, observa-se que um ambiente patológico, em crise, rompe com o seu desenvolvimento, visto que um sistema desigual não favorece o progresso coletivo. Dessa forma, com a disponibilidade de ir ao cinema mediada pelo preço — que não leva em consideração a renda regional —, a democratização torna-se inviável.
Depreende-se, portanto, a relevância da igualdade do acesso ao cinema no Brasil. Para que isso ocorra, é necessário que o Estado proporcione a redução coerente do custo de ingressos por região, junto à difusão da importância da produção cinematográfica no cotidiano, nos meios de comunicação, por meio de anúncios, a fim de colaborar com o acesso igualitário. Ademais, a instituição educacional deve proporcionar aos indivíduos uma educação voltada à democratização coletiva do cinema, como entretenimento destinado às elites, por intermédio de debates e palestras, na área das Ciências Humanas, como forma de esclarecimento populacional. Assim, haverá um ambiente estável que colabore com a acessibilidade geral ao cinema no país.”
Amanda Rocha, 21 anos, Itaituba (PA)
Dica: “Escrever pelo menos uma redação por semana e estudar recursos argumentativos, para que o candidato possa usá-los em temas diversos.”
Enem: trecho da redação nota mil de Amanda Rocha
Reprodução
“A construção dos feudos, muros que delimitavam uma determinada área no período da Idade Média, segregou milhares de pessoas e impossibilitou o acesso a bens que somente a nobreza podia usufruir. Semelhante a essa época, no contexto brasileiro contemporâneo, o cinema é um dos inúmeros meios de democratizar a cultura, mas ainda é “feudalizado”, já que grande parte da população continua alheia a esse serviço . Então, tanto a concentração das salas de teledramaturgia em regiões mais desenvolvidas economicamente, quanto os exorbitantes preços dos ingressos e alimentos, vendidos com exclusividade pela empresa proprietária, mutilam a cidadania e consagram importantes simbologias de poder.
Nessa perspectiva, a cultura é imprescindível para a identidade de um povo e, indubitavelmente, o cinema é uma fundamental ferramenta de inclusão e de propagação de valores sociais. Entretanto, de acordo com o geógrafo Milton Santos, no texto “Cidadanias Mutiladas”, a democracia, extremamente necessária para a fundamentação cultural do indivíduo, só é efetiva quando atinge a totalidade do corpo social, ou seja, na medida em que os direitos são universais e desfrutados por todos os cidadãos. Dessa maneira, a concentração das salas de cinemas em áreas com alto desenvolvimento econômico e o alheamento de milhares de pessoas a esse serviço provam que não há democratização do acesso à cultura cinematográfica no Brasil, marginalizando grande parcela da sociedade desprovida de recursos financeiros.
Outrossim, os preços abusivos de ingressos, a divisão das salas em categorias de conforto e a proibição de entrada de bebidas e alimentos, que não sejam vendidos no estabelecimento, dividem, ainda mais, a sociedade. Isso pode ser explicado pelo teórico Pierre Bourdieu, o qual afirma que todas as minúcias de um indivíduo constituem simbologias que são constantemente analisadas pelo corpo social, isto é, o poder de compra, as características pessoais e o acesso a bens e serviços refletem quem é o homem para outrem. Dessa forma, o alto custo praticado pelas redes cinematográficas violenta simbolicamente aqueles que não conseguem contemplar as grandes telas e aumenta a desigualdade.
Portanto, cabe à iniciativa privada, em parceria com os estados e municípios, promover a interiorização das salas de teledramaturgia, por meio da construção de novos empreendimentos em áreas distantes dos pólos econômicos e da redução dos custos para o consumidor de baixa renda, incentivando, então, a cultura mais democrática. Além disso, é responsabilidade da Ancine, Agência Nacional de Cinema, estabelecer um canal de comunicação mais efetivo com o telespectador, por intermédio de aplicativos e das redes sociais interativas, para que denúncias e reclamações sobre preços abusivos possam ser realizadas. Como efeito social, a democratização do cinema no Brasil será uma realidade, destruindo, assim, barreiras e “feudos” sociais.”
Ana Clara Socha, 21 anos, Brasília (DF)
Ana Clara tirou a nota máxima na redação do Enem 2019
Arquivo pessoal
Dica: “Estudar a estrutura da dissertação, praticar regularmente e sempre voltar aos erros das redações anteriores, antes de fazer uma nova.”
Enem: trecho da redação nota mil de Ana Clara Socha
Reprodução
“Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito de todos os cidadãos, percebe-se que, na atual realidade brasileira, não há o cumprimento dessa garantia, principalmente no que diz respeito ao cinema. Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos grandes centros urbanos e à condição cultural de que a arte é direcionada aos mais favorecidos economicamente.
É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram construídas sob um viés elitista e segregacionista, de modo que os centros culturais estão, em sua maioria, restritos ao espaço ocupado pelos detentores do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a chegada do cinema, já que apenas 17% da população do país frequenta os centros culturais em questão. Nesse sentido, observa-se que a segregação social — evidenciada como uma característica da sociedade brasileira, por Sérgio Buarque de Holanda, no livro “Raízes do Brasil” — se faz presente até os dias atuais, por privar a população das periferias do acesso à cultura e ao lazer que são proporcionados pelo cinema.
Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte não abrange a população de baixa renda é um fator limitante para que haja a democratização plena da cultura e, portanto, do cinema. Isso é retratado no livro “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, o qual ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de miserabilidade vive, e, assim, mostra como acesso a centros culturais é uma perspectiva distante de sua realidade, não necessariamente pela distância física, mas pela ideia de pertencimento a esses espaços.
Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da democratização do cinema é imprescindível para a construção de uma sociedade mais igualitária. Nessa lógica, é imperativo que Ministério da Economia destine verbas para a construção de salas de cinema, de baixo custo ou gratuitas, nas periferias brasileiras por meio da inclusão de seu objetivo na base de Diretrizes Orçamentárias, com o intuito de democratizar o acesso à arte. Além disso, cabe às instituições de ensino promover passeios aos cinemas locais, desde o início da vida escolar das crianças, mediante autorização e contribuição dos responsáveis, a fim de desconstruir a ideia de elitização da cultura, sobretudo em regiões carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar para completude da democracia no âmbito cultural.”
Ana Flávia Pereira, 21 anos, Uberlândia (MG)
Ana Flávia relê o rascunho da redação do Enem 2019
Arquivo pessoal
Dicas: “Eu diria que o hábito da leitura é fundamental e que ler redações nota mil de anos anteriores é muito necessário! Grifar as partes dos textos pra entender que existe um padrão claro na redação do Enem também ajuda na hora de escrever.
Além disso, precisamos cuidar da saúde mental pra não ter um ataque de pânico durante a prova (isso aconteceu comigo em 2018, acabei tirando 780 e aí tive de ir pra mais um ano de cursinho).”
Enem: trecho da redação nota mil de Ana Flávia Pereira
Reprodução
“Na obra “Brasil: uma biografia”, as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling apontam ao leitor as idiossincrasias da sociedade brasileira. Dentre elas destaca-se “a difícil e tortuosa construção da cidadania”. Embora o país possua uma das legislações mais avançadas do mundo, muito do que nela se prevê não se concretiza. Tal fato é evidenciado no âmbito da democratização do acesso ao cinema, tendo em vista que apesar dos brasileiros possuírem o acesso à cultura como direito constitucional, a ineficiência do Estado associado a uma cultura de aceitação por parte dos brasileiros faz com que a cidadania não seja gozada por todos de maneira plena.
Em primeiro plano, a ineficiência do Estado em aplicar leis que garantam o acesso à cultura restringe a cidadania dos indivíduos. Seja pela dificuldade em administrar recursos em um território de dimensões continentais, seja pela falta de interesse dos órgãos públicos em promover o desenvolvimento sociocultural democrático das regiões afastadas do centro vanguardista nacional, existe uma parcela significativa da população sem acesso ao cinema. Dados oficiais do governo indicam que atualmente existem 2200 salas de cinema no país, entretanto, o Brasil possui mais de 200 milhões de habitantes, o que indica que a democratização do entretenimento cinematográfico é um processo lento e até mesmo o utópico.
Ademais, a aceitação da restrição da cidadania por parte dos brasileiros provém de um ensino ineficaz e muitas vezes inexistente que acarreta falta de conhecimento sobre os direitos individuais. No livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, o protagonista Fabiano, desprovido do acesso ao conhecimento, acabava sendo explorado e humilhado por aqueles que detinham o saber. Nesse viés, sendo a arte uma mera reprodução da realidade, hoje são milhares os fabianos no Brasil. Dessa forma, a ampliação do acesso à cultura por meio do cinema é imperativa para alertar os brasileiros sobre sua condição de marginalização cultural e para inserí-los no acesso à arte.
Portanto, pode-se inferir que a democratização do acesso ao cinema no Brasil é um tema relevante e que carece de soluções. Sendo assim, cabe ao Governo Federal direcionar recursos para regiões marginalizadas do eixo vanguardista brasileiro, por meio da definição de uma agenda econômica que democratize o acesso à cultura, a fim de promover o desenvolvimento sociocultural igualitário dos cidadãos. Além disso, cabe ao Ministério da Educação promover palestras, em associação com a indústria cinematográfica, bem como incentivar a produção de curta-metragens, no intuito de conscientizar os brasileiros sobre o direito do acesso à cultura e sobre o papel do cinema na emancipação individual das amarras sociais. Assim, a construção da cidadania será facilitada e os fabianos se tornarão, de fato, cidadãos plenos.”
Guilherme Mendes Vaz, 26 anos, Novo Hamburgo (RS)
Dica: “Muita leitura, uma vez que, com ela, o processo de argumentação se torna fluido. Além disso, a prática da escrita é essencial, de preferência, semanalmente.”
Enem: trecho da redação nota mil de Guilherme Mendes Vaz
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“De acordo com Cláudio Mazzili, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vivemos em uma sociedade classista e hierarquizada em função do capital, na qual se instaura a lógica da discriminação e não a desejada inclusão social. Esse pensamento permite estabelecer um paralelo com a precária democratização do acesso ao cinema no Brasil, uma vez que essa importante fonte cultural está, majoritariamente, concentrada em zonas de alto poder aquisitivo. Entretanto, se usada de forma a auxiliar na democratização cultural — principalmente nas zonas periféricas —, o cinema pode ser uma importante ferramenta no avanço educacional do país.
Deve-se pontuar, de início, que o Brasil é, infelizmente, um país estratificado e desigual. Desde a sua gênese (considerando-se a perspectiva ibérica), a América foi pensada como uma colônia de exploração, na qual a educação não só era desestimulada, como era proibida. É dentro desse contexto exploratório que se estruturou a sociedade brasileira, a qual tem — como uma das consequências “modernas” — a gentrificação, isto é, o afastamento dos indivíduos com baixo poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, o que os deixa ainda mais distantes da infraestrutura social destina à educação, à cultura e ao entretenimento educativo. Ora, percebe-se, portanto, que essas áreas privilegiadas com acesso à cultura — como o cinema — são de exclusividade daqueles que têm altas rendas. Em contrapartida, nas periferias, nas zonas rurais e nas áreas menos valorizadas a democratização do acesso ao cinema é praticamente nula, o que agrava a situação de vulnerabilidade social desses cidadãos.
Contudo, a democratização do acesso ao cinema — se feita de modo a beneficiar os menos favorecidos, os quais representam a maior parte da população — é uma importante ferramenta na desconstrução das amarras coloniais, e, posteriormente, em uma reformulação educacional que vise ao acesso democrático à cultura para todo cidadão brasileiro. Tomemos como exemplo uma situação hipotética na qual um sujeito que reside na periferia tem, todas as noites, a possibilidade de interagir com a comunidade e de adquirir conhecimento por meio de um cinema ao ar livre, o qual traz como conteúdo filmes, documentários e palestras. Torna-se evidente que esse indivíduo, além de ter acesso à cultura, terá uma forma de entretenimento que o beneficiará tanto individualmente quanto socialmente, visto que o conhecimento será útil em todas as áreas da sua vida.
Portanto, concluí-se que a precária democratização do acesso ao cinema no Brasil está intrinsecamente ligada às heranças coloniais. Entretanto, medidas educacionais podem ser tomadas para reverter esse cenário. Posto isso, cabe ao Ministério da Educação, responsável pelo desenvolvimento educacional do país, criar um projeto de instalação cinematográfica ao ar livre nas regiões periféricas, as quais apresentarão programação cultural — como filmes e documentários —, por meio de verbas provenientes da contribuição pública, para que essa sociedade classista, como evidenciado por Mazzili, seja transformada em uma comunidade democrática e educacionalmente homogênea.”
Juliana Souza, 18 anos, Rio de Janeiro (RJ)
Juliana Souza é uma das candidatas a tirar mil na redação do Enem 2019
Arquivo pessoal
Dicas: “Ler muitos jornais e revistas, para se manter atualizado acerca do cenário nacional ; treinar a produção de texto semanalmente, pois a escrita de uma boa redação resulta da prática constante; e analisar os artigos da Constituição Federal de 1988, porque muitos deles podem ser citados como referência.”
Enem: trecho da redação nota mil de Juliana Souza
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“Segundo o filósofo Friedrich Nietzsche, a arte existe para impedir que a realidade nos destrua. Sob essa ótica, é inegável a crucialidade das expressões culturais para a promoção do bem-estar do homem moderno. No entanto, ao se observar o caráter excludente do acesso ao cinema no Brasil, é notório que essa imprescindibilidade não tem sido considerada no país. Nesse sentido, pode-se afirmar que a negligência governamental e a escassa abordagem do problema agravam essa situação.
Primeiramente, é válido destacar que a displicência estatal colabora com esse cenário. De acordo com o Artigo 6º da Constituição Federal do Brasil, promulgada no ano de 1988, todo cidadão brasileiro tem direito ao lazer. Entretanto, ao se analisar a concentração de cinemas nas áreas de renda mais alta das grandes cidades, é indiscutível que essa premissa constitucional não é valorizada pelo governo nacional. Dessa maneira, é importante salientar que essa má atuação do Estado provoca o acesso desigual a essa atividade de exibição por parte da população e, consequentemente, garante a condição de subcidadania de diversos indivíduos.
Além disso, é pertinente ressaltar que a insuficiente exposição dessa problemática contribui para a não democratização desse programa cultural. Nessa perspectiva, muitas vezes, a mídia negligencia o debate acerca da ausência de lazer nas periferias urbanas e no interior do país, o que faz com que a carência de cinemas nessas regiões não seja denunciada. Dessa forma, é indubitável que a pouco abordagem midiática com relação ao caráter restritivo do universo cinematográfico proporciona a perpetuação da concentração regional dessa atividade de exibição.
Torna-se evidente, portanto, que o acesso não democrático ao cinema no Brasil é um entrave que precisa ser solucionado. Sendo assim, o Estado deve investir na ampliação do alcance desse programa cultural, por meio da capitalização das empresas exibidoras. Isso pode ocorrer, por exemplo, com a concessão de subsídios fiscais a instituições privadas que, comprovadamente, promovam a construção de cinemas nas áreas carentes do país, a fim de que a acessibilidade a essa atividade de exibição seja garantida de forma igualitária. Ademais, a mídia deve elaborar reportagens de denúncia, as quais exibam a carência desse tipo de lazer nas periferias urbanas. Desse modo, certamente, a afirmação de Nietzsche será vivenciada por todos os cidadãos brasileiros.”
Isabela Cardoso, 21 anos, Anápolis (GO)
Dicas: “Para fazer uma boa redação no Enem, é necessário estar atento à estrutura do texto dissertativo-argumentativo. Estudar as redações nota mil das edições anteriores é uma excelente forma de perceber essa estrutura e desenvolver o seu próprio modelo.”
Enem: trecho da redação nota mil de Isabella Cardoso
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“De modo ficcional, o filme “Cine Holiúdi” retrata o impacto positivo do cinema no cotidiano das cidades, dada a sua capacidade de promover o lazer, socialização e cultura. Entretanto, na realidade, tais benefícios não atingem toda a população brasileira, haja vista a elitização dos meios cinematográficos e a falta de infraestrutura adequada nos cinemas existentes. Sendo assim, urge a análise e a resolução desses entraves para democratizar o acesso ao cinema no Brasil.
A princípio, é lícito destacar que a elitização dos meios cinematográficos contribui para que muitos brasileiros sejam impedidos de frequentar as salas de cinema. Isso posto, segundo o filósofo inglês Nick Couldry em sua obra “Por que a voz importa?”, a sociedade neoliberal hodierna tende a silenciar os grupos menos favorecidos, privados dos meios de comunicação. A partir disso, é indubitável que a localização dos cinemas em áreas mais nobres e o alto valor dos ingressos configuram uma tentativa de excluir e silenciar os grupos periféricos, tal como discute Nick Couldry. Nesse viés, poucos são os indivíduos que desfrutam do direito ao lazer e à cultura promovidos pela cinematografia, o qual está previsto na Constituição e deve ser garantido a todos pelo Estado.
Ademais, vale postular que a falta de infraestrutura adequada para todos os cidadãos também dificulta o acesso amplo aos cinemas do país. Conquanto a acessibilidade seja um direito assegurado pela Carta Magna e os cinemas disponham de lugares reservados para cadeirantes, não há intérpretes de LIBRAS nas telas e a configuração das salas — pautada em escadas —, não auxilia o deslocamento de idosos e portadores de necessidades especiais. À luz dessa perspectiva, é fundamental que haja maior investimento em infraestrutura para que todos os brasileiros sejam incluídos nos ambientes cinematográficos.
Por fim, diante dos desafios supramencionados, é necessária a ação conjunta do Estado e da sociedade para mitigá-los. Nesse âmbito, cabe ao poder público, na figura do Ministério Público, em parceria com a mídia nacional, desenvolver campanhas educativas — por meio de cartilhas virtuais e curta-metragens a serem veiculados nas mídias sociais — a fim de orientar a população e as empresas de cinema a valorizar o meio cinematográfico e ampliar a acessibilidade das salas. Por sua vez, as empresas devem colaborar com a democratização do acesso ao cinema pela cobrança de valores mais acessíveis e pela construção de salas adaptadas. Feito isso, o Brasil poderá garantir os benefícios do cinema a todos, como relata o filme “Cine Holiúdi”.”
Isabelle Moreira, 18 anos, Guapimirim (RJ)
Isabelle Moreira tirou nota mil na redação do Enem 2019
Arquivo pessoal
Dicas: “Praticar! Eu recomendo fazer, no mínimo, uma redação por semana. Outra dica que dou é estudar e ler muitos textos modelo! Imprima redações e estude por elas, grife conectivos e argumentos, perceba as estruturas e padrões entre as que tiraram nota mil. Conheça os critérios de correção. Além disso, estude o tema e deixe tudo anotado, pesquise argumentos, e perto do Enem, releia o que você anotou ao longo do ano.
Por último, crie sua própria estrutura e seu estilo de escrita, isso vai otimizar muito e seu tempo, e no Enem, cada minuto é precioso.”
Enem: trecho da redação nota mil de Isabelle Moreira
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“A Constituição Federal de 1988 ― norma de maior hierarquia do sistema jurídico brasileiro ― garante o acesso ao lazer. No entanto, a população se mostra distante da realidade prometida pela norma constitucional, haja vista que os cinemas brasileiros recebem um público cada vez menor. Dessa forma, entende-se que a desigualdade regional, bem como a elitização do acesso ao cinema apresentam-se como entraves para a inclusão na esfera cinematográfica.
Em primeiro plano, é necessário ressaltar que o acesso ao cinema é mal distribuído no território brasileiro. A esse respeito, em 1956, durante o governo de Juscelino Kubitschek, multinacionais se instalaram no Brasil, majoritariamente, nas regiões Sul e Sudeste. Desse modo, na contemporaneidade, o país expandiu sua preferência regional para a indústria cinematográfica, de modo que as regiões Norte e Nordeste ainda apresentam-se excluídas a esse acesso ao lazer, pelo fato de as empresas preferirem construir os cinemas em grandes metrópoles as quais lhes darão mais lucro. Nesse viés, enquanto parcela do país for privilegiada, o direito constitucional será uma realidade distante para parte da população.
Ademais, outro fator é responsável pela deficiência da democratização no âmbito cinematográfico: a elitização do acesso. Segundo o filósofo Pierre Lévy, toda tecnologia cria seus excluídos, de fato, a população de baixa renda é mantida excluída no que diz respeito à tecnologia do cinema, devido à segregação socioespacial. Nesse sentido, grande parcela dos cinemas se localizam em “shoppings centers”, com ingressos caros que nem todos podem pagar. Desse modo, é necessário que medidas sejam tomadas para garantir o acesso a todas as classes.
Fica evidente, portanto, que nem todos têm acesso ao cinema como entretenimento. Nesse contexto, cabe ao Ministério da Cultura ― órgão responsável pelo sistema cultural brasileiro ― garantir à população a oportunidade de frequentar um cinema, por intermédio de políticas de descontos na compra de ingressos de acordo com a renda, a fim de incluir toda sociedade no “mundo cinematográfico”. Dessa forma, os brasileiros verão o direito garantido pela Constituição como uma realidade próxima.”
Letícia Islávia, 19 anos, Teresina (PI)
Dicas: “Treinar, sempre identificar os erros, reescrever os textos, entender as cinco competências exigidas pelo Enem, ampliar o repertório sociocultural e ler notícias para saber argumentar sobre qualquer tema.”
Enem: trecho da redação nota mil de Letícia Islávia
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“De acordo com a Constituição de 1988, todos os cidadãos possuem o direito ao lazer na comunidade. Contudo, na atual sociedade brasileira, há uma ínfima democratização do acesso aos cinemas devido, majoritariamente, à negligência governamental e à má formação socioeducacional.
A priori, vale ressaltar o Pacto Social, do contratualista John Rawls, ao inferir que o Estado deve garantir os direitos imprescindíveis dos indivíduos, como o lazer e o bem-estar. No entanto, é evidente o rompimento desse contrato quanto aos cinemas brasileiros, visto que existe uma concentração desses espaços nas áreas de maiores rendas, o que torna um ambiente excludente para uma parcela da sociedade. Assim, é notória a ineficácia estatal na integração desse tipo de lazer para toda a população, pois, com a grande distância dos locais periféricos aos centros urbanos e o elevado custo para ter esse acesso, os cidadãos se desestimulam a frequentarem os cinemas.
Além disso, alude-se ao pensamento do intelectual Paulo Freire, ao evidenciar que, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Sob essa perspectiva, percebe-se a importância do estímulo nas escolas ao acesso dos jovens ao cinema, haja vista que existem muitos jovens que não conhecem seus direitos ao lazer, como o pagamento do valor de meia entrada nos cinemas por estudantes. Dessa forma, as instituições de ensino possuem uma importante função na democratização desse acesso, colaborando para que os cidadãos possuam um acesso aos seus direitos e o hábito de frequentarem os cinemas.
Portanto, urge ao governo federal, aliado às esferas estadual e municipal, descentralizar os cinemas, por meio da ampliação das redes cinematográficas em todo o Brasil e nos locais periféricos das cidades, com a finalidade de permitir que toda a sociedade tenha esse acesso, sem haver uma locomoção de longa duração e com custo acessível aos indivíduos de baixa renda. Ademais, compete à Escola, em parceria com as empresas cinematográficas, orientar os adolescentes a frequentarem os cinemas, por intermédio de projetos pedagógicos (como atividades lúdicas, filmes e documentários) que elucidem sobre a importância da crítica dos cinemas e como adquirir os direitos ao acesso ao lazer, a fim de aumentar o número de telespectadores dessa arte. Com isso, efetivar o que garante a Constituição de 1988, melhorando a democratização desse acesso.”
Vinicius Adriano, 18 anos, Belém (PA)
Dicas: “Sugiro o treino contínuo da redação, pelo menos uma vez por semana, para que o aluno possa construir a sua própria estrutura de texto e utilizá-la na hora da prova. Também é sempre bom adquirir repertórios para usar na redação, não deixar de assistir a uma série ou a um filme nos intervalos de estudos – dá para usar alguma informação dessas produções nos nossos textos.”
Enem: trecho da redação nota mil de Vinicius Adriano
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“No longa-metragem ganhador do Oscar “A invenção de Hugo Cabret”, narra-se o cotidiano de um jovem garoto órfão que, apesar de viver – sob precárias condições – em uma estação de trem parisiense, frequenta, clandestinamente, uma sala de cinema próxima ao seu lar como uma forma de afastar-se de sua infeliz realidade. Tal obra fictícia, além de expor um dos benefícios da ida a esse tipo de estabelecimento, também denuncia a desigualdade do acesso à arte cinematográfica, semelhantemente ao que ocorre no Brasil contemporâneo. Nesse âmbito, faz-se necessário analisar dois entraves acerca do óbice social apresentado: os elevados custos para a entrada em cinemas – incompatíveis com a condição financeira de camadas populares – e a falta de mobilização cidadã em prol da equidade dos direitos relacionados a essa situação.
Primordialmente, é válido pontuar a política de preços altos como um obstáculo à democratização da Sétima Arte no território nacional. Isso ocorre devido ao ineficiente quantitativo de medidas governamentais para modificar as tabelas de custos estabelecidas por empresas privadas (responsáveis pela distribuição de obras cinematográficas), promovendo um impedimento a comunidades de baixa renda no que tange ao acesso aos locais em pauta. Entretanto, atualmente, observa-se uma gradativa mudança na postura estatal em relação a esse cenário, a exemplo da criação do cinema Líbero Luxardo na cidade de Belém, desenvolvido pelo governo do estado do Pará para oferecer entretenimento (tanto nacional, quanto estrangeiro) de qualidade por preços econômicos.
Apesar desse notório progresso, ainda é imperiosa a problemática supracitada, uma vez que projetos (como o exposto) são minoritários comparadas a outras regiões do país. Ademais, deve-se explicitar que considerável parcela da sociedade não busca reverter a situação da desigualdade do acesso ao cinema no Brasil. Tal estorvo advém de uma despreocupação dos cidadãos em exigir reformulações nos setores públicos (como o Ministério da Cidadania) encarregados de garantir a possibilidade de apreciação das múltiplas formas de arte por todos, o que define esse comportamento negligente como um “eclipse de consciência”, termo – conforme o literato português José Saramago, no romance “Ensaio sobre a cegueira” – utilizado para sintetizar a ideia da falta de sensibilidade do indivíduo perante os imbróglios enfrentados pelo próximo, nesse caso, o contingente populacional desprovido da oportunidade de desfrute às produções cinematográficas. Por conseguinte, sob efeito desse fenômeno, considerável parte dos brasileiros fomenta a invisibilização do empecilho social em evidência, afastando as pessoas necessitadas das salas de projeção.
Portanto, cabe ao Poder Executivo – instituição de alta relevância para o país – potencializar projetos sociais para a construção de locais de exibição de filmes nacionais e internacionais no território, por meio da cessão de capital público aos órgãos competentes, a fim de efetivar a democratização da apreciação do cinema aos cidadãos. Paralelo a isso, o Ministério da Educação deve mudar o comportamento passivo da comunidade acerca do combate ao óbice em questão, por intermédio de palestras em escolas e em universidades, visando reverter o preocupante cenário reiterado e, assim, desvencilhar parte da sociedade do “eclipse de consciência” que a acomete.”
Cartilha com redações
Lucas Felpi, de 18 anos, teve o desempenho máximo na redação do Enem 2018 e foi aprovado na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, por outros processos seletivos, em instituições de ensino dos Estados Unidos. Segundo ele, ter estudado os textos de outros candidatos foi essencial para o seu desempenho.
Lucas Felpi organiza cartilhas com redações nota mil
Arquivo pessoal
Por isso, mesmo dois anos após ingressar na Universidade de Michigan (EUA), ele continua em contato com estudantes nota mil do Brasil, para organizar cartilhas com as redações deles. “Depois de passar pelo período de pré-vestibulando, descobri o quão importante foi a leitura de redações para chegar ao meu resultado. Então, me propus a encontrar esses alunos e disponibilizar os textos deles para quem está se preparando agora”, afirma.
O download do material de Lucas pode ser feito aqui.
Prazo para pagar taxa de inscrição é adiado
Candidatos do Enem 2020 que não pagaram a taxa de inscrição poderão gerar um novo boleto e quitá-lo até o dia 10 de junho. A opção estará disponível na página do participante a partir desta quarta-feira (3).
O prazo havia se encerrado em 28 de maio, mas foi prorrogado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Segundo o órgão, cerca de 300 mil candidatos fizeram a inscrição, mas não pagaram a taxa de R$ 85.
Inep adia prazo para pagamento de taxa de inscrição no Enem.
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